Oi, pessoal! O assunto da vez é
um dos mais importantes em relação a doenças em felinos que envolvem saúde
pública e que mais uma vez vou frisar: nós como tutores e cidadãos, temos
obrigação de manter a vacinação dos nossos pets em dia!
Então,
o tema de hoje é: o vírus da RAIVA!
Curiosidade: Você
sabia que agosto é conhecido como o mês do “cachorro louco”? Isso porque nesta época
geralmente as cadelas entram no cio, com isso, os machos acabam “ficando loucos”,
brigando entre si para decidir quem irá acasalar. Caso um deles esteja
infectado com o vírus, poderá contaminar os demais através da saliva, disseminando a doença. Por isso,
agosto é conhecido como o mês da conscientização da raiva.
Bom, a ideia de falar sobre esse tema foi por um episódio ocorrido aqui em casa. Encontramos o Pedrinho meio escondido brincando com algo, na hora, não dei
muita bola. Mostrei pro Fernando e ele foi lá espiar. Pra nossa surpresa, o
brinquedo era um morcego que já havia sido abatido pela gangue, ele estava com
as asas mordidas, cheio de marcas de dentinhos (foto 01). Pensa no susto! E foi assim que
percebi a importância de esclarecer e informar sobre essa doença, visto que
muita gente estava com dúvidas no direct do Instagram.
Foto 01: Arquivo pessoal. Morcego com marca de mordidas dos gatos.
O vírus da Raiva é 99,9% letal, atinge todos os mamíferos (cães, gatos,
bois, cavalos, morcegos, raposas, etc), incluindo os seres humanos!
É uma doença com caráter zoonótico, ou seja, pode ser transmitida dos animais
para as pessoas e vice-versa.
A forma mais
comum de transmissão é através da mordida ou arranhões na pele íntegra
(saudável) e também lambedura. Os sinais clínicos nos gatos infectados
podem ser discretos, como mancar de alguma patinha, aumento da vocalização com
mudanças na voz, anorexia, letargia, fraqueza, tremores, hidrofobia (medo de
água), vômitos e agressividade. Nos cães é semelhante, além de ocorrer
salivação excessiva.
E em relação
aos animais silvestres, como podemos desconfiar que estejam infectados? Bom, apesar
de alguns aparentarem estar saudáveis, o que é mais fácil perceber é a mudança
de comportamento, como por exemplo, perder o medo e se aproximar dos humanos. Devo lembrar que nem todos os animais selvagens estão doentes
ou são portadores do vírus, ok?
Por exemplo, o
gambá (foto 02) que tem hábitos noturnos e começa aparecer durante o dia (falando de
forma bem direta, claro que não é só isso que devemos levar em consideração). Ou então, um
morcego, que também tem hábito noturno, é encontrado em locais e horas não
habituais e principalmente: desnorteados - não são capazes de desviar
obstáculos. Lembrando que isso não é regra! Por favor, não se assustem e
saiam sacrificando estes animais incríveis que possuem um importante papel na
natureza, espalhando sementes e ajudando no ecossistema das florestas.
Foto 02: fonte internet. Gambá (Didelphis
marsupialis)
Mudanças
bruscas de comportamento dos pets pode ser um sinal de alerta. Por exemplo, quando
um animal que sempre foi calmo e se torna super agressivo repentinamente.
Nestes casos, ele deverá passar por avaliação médica e se necessário, ser encaminhado para
quarentena (isolado em observação) por pelo menos 10 dias. Nessa situação, só poderá
ser vacinado após este período. Se caso durante esse intervalo ele começar a
apresentar sinais compatíveis com a doença, infelizmente a recomendação é a
eutanásia.
Lendo um
artigo americano, descobri que lá, caso o tutor negue a eutanásia, o pet deve
permanecer durante seis meses em quarentena absoluta, pois neste período pode
apresentar os sintomas se ele estiver incubando o vírus. No Brasil, não é
permitido esta conduta, ou seja, o animal deverá ser sacrificado. Todos
esses animais devem ir para necropsia para comprovar (ou não) a presença do
vírus.
A
raiva é uma doença de notificação
obrigatória ou compulsória, isso significa que todos os
profissionais da saúde são obrigados por lei a notificar os casos para órgãos
públicos, como a vigilância epidemiológica.
Então,
a recomendação para a população é: ao encontrar um animal silvestre morto
próximo a sua casa, entre em contato com a vigilância sanitária da sua cidade.
Não encoste no animal, eles irão apanhá-lo e levá-lo para necropsia e coleta de
material a fim de pesquisar a presença do vírus. Se o resultado for positivo, a vigilância deverá implementar o chamado “plano de contingência”,
realizando a vacinação em massa de pets daquela região, entre outras ações.
Como
sempre, prevenir é melhor que remediar! Por isso, mantenha a vacinação do
seu animal de estimação em dia! Você estará protegendo sua família, seus
pets e a comunidade ao seu redor (e isto vale para qualquer vacina, ok?).
Algumas cidades realizam campanhas de vacinação
contra raiva gratuitamente, com o objetivo de aumentar a taxa de proteção da
população animal e consequentemente, a humana. Apenas desta forma é possível
manter a baixa incidência do vírus naquela região.
A
vacinação deve ser feita inclusive em gatos com criação indoor (criados apenas dentro
de casa). Durante meu estágio na vigilância sanitária em Porto Alegre/RS, além
de relatos de tutores durante atendimentos, não era incomum ocorrer chamados de
pessoas que encontraram morcegos dentro de casa/apartamento, inclusive teve um
caso em que os pais acharam um na cama do filho de 6 anos, mesmo tendo tela de
proteção em todas as janelas.
Nos
últimos anos, nós, médicos veterinários (MV), temos percebido a diminuição da
vacinação antirrábica nos nossos pacientes e isso é muito grave!
As pessoas
criaram uma falsa impressão de que a raiva urbana (nas cidades) está
controlada, isso porque até então, os pets estavam sendo vacinados corretamente.
Porém, a raiva rural (no campo), nunca esteve controlada, afinal, não há como
restringir o contato de animais domésticos com a fauna silvestres da região, fazendo com que volte a aumentar a incidência da doença nas cidades
indiretamente.
Com
toda as mudanças negativas acontecendo no nosso meio ambiente, os animais
selvagens acabam vindo para as cidades em busca de alimento, aumentando a
interação com os humanos. Como o exemplo que falei anteriormente: morcegos
entrando nos aptos.
Logicamente,
tudo isso sobrecarrega nosso sistema de saúde. Confesso que não sei como está a
situação atualmente, mas ficamos um bom tempo sem vacina para os humanos. Apesar
de ter me vacinado um pouco antes dessa época, não consegui tomar o reforço
anual. Para nós, médicos veterinários, atuando na linha de frente, estamos sempre
vulneráveis e é muito sério não poder manter nossa vacinação em dia.
Onde quero
chegar com esta informação? Vocês, tutores, mantendo os pets vacinados, ajudam
a proteger a todos, incluindo os profissionais da saúde. Já tinham pensado neste
importante papel de vocês no “meio disso tudo”?
Agora apenas uma
informação extra em relação como a vigilância sanitária age com as pessoas que
sofreram algum acidente com animal suspeito. Esses pacientes precisam tomar
todo o protocolo vacinal com a antirrábica (5 doses no total), além de precisar
aplicar soro antirrábico ao redor de todo o machucado (arranhadura ou mordedura). Pode ocorrer variações no protocolo,
coloquei de modo geral apenas como curiosidade para vocês.
Procurei
alguns casos mais atuais de raiva em humanos, percebam que a pessoa
sobrevivente ficou com graves sequelas (foto 05). A outra paciente acabou indo a óbito
poucos dias após o contágio (foto 03).
Foto 03. Fonte: site G1. Mulher paraibana veio a óbito 20 dias após caso de raiva ser confirmado.
Foto 04. Fonte: site G1. Paciente recebeu alta, mas ficou com sequelas.
Foto 05. Fonte: internet Médicos sem fronteiras. Surto de raiva na República do Congo.
Espero
que tenham gostado das informações do post de hoje, meu maior objetivo foi
instruir e passar mais informações confiáveis a respeito dessa doença e abrir os
olhos sobre a vacinação dos nossos pets. Lembrem-se: tutores possuem um papel
importantíssimo na saúde pública! Pensem nisso! Abraço, Mai.